ALZHEIMER: UMA CORRIDA CONTRA O TEMPO

23/09/2013 09:12

 

Por: Luna Layse e Paulo Pedroza

Petrolina (PE), 13h, sol escaldante lá fora. Na Avenida Honorato Viana o vai e vem dos carros mostram que o tempo não parou, é mais um dia comum no Sertão do São Francisco. No mesmo horário, na recepção do Hospital Geral e Urgências (HGU), três mulheres estão sentadas aguardando a chegada do táxi, duas delas conversam muito, a outra, uma senhora idosa, permanece calada, alheia àquele diálogo e ao que acontece depois da porta de vidro com o nome escrito em vermelho, “saída”. Esta senhora é Dona Lourdes, 80 anos, doente de Alzheimer, que aguarda junto com a filha Maria Tereza o horário de ir para casa após uma reunião com um grupo de apoio a familiares de pessoas com a doença.

Segundo o médico geriatra Érico Wanderley, Dona Lourdes está entre o grupo de idosos com mais de 65 anos que pode apresentar demência, estado caracterizado por déficit de memória, problemas de comportamento e incapacidade de julgar situações. Entre os vários tipos de demência, estima-se que de 50% a 60% dos casos sejam do tipo Alzheimer, mas é preciso várias avaliações para confirmar o diagnóstico. “O geriatra não é o único profissional que vai avaliar esse idoso, ele necessita de uma equipe multidisciplinar. É necessário que os profissionais se comuniquem e cheguem a um diagnóstico provável feito através da exclusão de outras doenças”, disse Wanderley.

Maria Tereza, filha de Dona Lourdes, lembra que cuidar do doente de Alzheimer é muito difícil, por isso considera importante a troca de experiências com outras pessoas que passam pela mesma situação. Ela participa mensalmente das reuniões promovidas pela Associação Brasileira de Alzheimer, sub-regional Petrolina (ABRAz-Petrolina), que forma um grupo de apoio com familiares e cuidadores de pessoas com a doença.

Durante essas reuniões, além de compartilhar experiências, eles recebem orientação profissional, ajudando a melhorar a qualidade de vida não só do doente, mas de todos os envolvidos no tratamento. “Foi através das reuniões que passei a entender melhor como cuidar da minha mãe. Orientações a respeito dos remédios, da disposição dos móveis na casa, alimentação, e banho facilitaram muito meu trabalho, sem esquecer de muito carinho que é essencial”, ressalta Maria Tereza.  Esses encontros do Grupo de Apoio da ABRAz-Petrolina acontecem no último sábado de cada mês no Centro de Prevenção e Recuperação – HGU Saúde (R. Dr. Geraldo Estrela, 100 – Centro)  e são gratuitos.

Cuidados com os doentes de Alzheimer

Para Dr. Érico Wanderley a informação ainda é o melhor caminho quando o assunto é Alzheimer, pois quanto mais informações as pessoas tiverem, maiores serão as chances de um diagnóstico precoce que ajuda a amenizar o avanço dos sintomas.

Campanha ABRAz

Cartaz da Campanha ABRAz

A coordenadora da ABRAz-Petrolina e terapeuta ocupacional Denise Cavalcanti lembra que a falta de conhecimento pode provocar situações inesperadas e constrangedoras. “Certa vez uma mulher relatou que foi ao supermercado com a mãe que tem Alzheimer e deixou ela sentada enquanto foi fazer as compras. Pouco tempo depois a mãe disse para as pessoas que estavam ao redor que aquela não era a sua filha. Foi necessário o envolvimento dos seguranças do local até que ela conseguisse provar que a senhora era realmente a sua mãe”.  A terapeuta acredita que o desgaste provocado por esta situação poderia ser evitado se a filha tivesse informações suficientes para saber que não deveria ter deixado a mãe sozinha enquanto fazia compras, pois o doente de Alzheimer pode inesperadamente mudar de comportamento. “A informação é a melhor coisa que podemos oferecer às pessoas que cuidam dos doentes com Alzheimer”, ressalta Denise Cavalcanti.

A falta de conhecimento e as instruções equivocadas levam muitos familiares a procurar instituições como a ABRAz, onde a equipe de profissionais auxilia dando orientações aos chamados “cuidadores”, função que pode ser desempenhada por um familiar, ou uma pessoa contratada. O cuidador ajuda em todas as atividades do doente, desde o banho à alimentação, por isso o ofício exige bastante atenção e carinho. “O cuidador é uma pessoa que se doa, aquele que sabe se colocar no lugar do outro tendo respeito e amor pelo que faz. É impossível imaginar a vida do paciente sem o cuidador”, ressalta Juliana Pedrosa, coordenadora da Residência em Enfermagem no Hospital de Urgências e Traumas, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf).

A doença de Alzheimer afeta o comportamento, a linguagem, o raciocínio, a capacidade de julgamento e as habilidades motoras do idoso, comprometendo as funções neurológicas de forma progressiva. “Por ser uma doença degenerativa e não apresentar cura, o Alzheimer ainda assusta os familiares, mas é preciso muita paciência e dedicação por parte de todos”, afirma Juliana Pedrosa.

Profissionais como o terapeuta ocupacional podem intervir no dia-a-dia dos pacientes, “de acordo com a situação do doente, ele facilitará a organização e o planejamento de novas atividades de modo a estimular as funções preservadas e desenvolver mecanismos compensatórios para a função alterada, atuando tanto numa abordagem preventiva quanto reabilitadora”, esclarece Denise Cavalcanti.

O termo multidisciplinar não foi utilizado por acaso quando o médico geriatra Érico Warderley falou sobre a equipe de profissionais necessária para cuidar do doente de Alzheimer. O tratamento exige a atuação conjunta de médicos, enfermeiros, terapeutas, nutricionistas, fonoaudiólogos, dentre outros que se dediquem ao paciente. E às vezes até mesmo a família necessita de um apoio profissional para aprender a lidar melhor com o doente, pois essa dedicação diária exige esforço físico e emocional, afinal não deve ser fácil para uma filha não ser reconhecida pela própria mãe.

Fotos: Reprodução da internet